quinta-feira, 14 de julho de 2016

O que a Fórmula 1 não percebe – ou não quer perceber – em torno das comunicações via rádio entre pilotos e equipes

O que envolveu a punição de Rosberg no último GP em Silverstone é apenas um detalhe perto do tamanho que a influência do rádio tem hoje nas corridas de Fórmula 1




Enfim, “explodiu” na Fórmula 1 uma punição por comunicação indevida através do rádio entre um piloto e seus engenheiros nos boxes.

Não estou entre os que acreditam que a punição – justa ou não – vem a comprovar a eficácia da regra. Não me insiro no grupo dos que pensam que o monitoramento feito hoje é algo eficaz, e que apenas por isso essa regra teria alguma razão de existir.

O que aconteceu em Silverstone foi o lado extremo da regra. Um piloto com problemas no seu carro que precisava da instrução para não abandonar ou não perder inúmeras posições na pista. Não foi uma assistência de direção no sentido de melhorar a performance, e sim uma correção de defeito. Nico Rosberg foi punido porque ficou escancarada para o mundo a mensagem dizendo claramente o que ele deveria fazer. Se a regra impede que isso seja feito, é certo que se puna.

O problema é que a regra não consegue atingir o seu sentido literal. É uma proibição quase ilusória e que pode ser – e já está sendo – contornada usando artimanhas e esperteza no uso do rádio.

Imagine você, leitor, as inúmeras vezes em que os engenheiros e “cientistas” da Fórmula 1 encontraram modos técnicos (utilizados diretamente nos carros) de burlar o regulamento.... Uma mangueira de combustível sem filtro, que abastece de forma mais rápida... Uma asa que flexiona sob a força do ar nas retas, um pneu com banda de rodagem que aumenta quando a borracha está mais quente, ampliando o contato da mesma com o solo.

Se o regulamento já foi burlado tantas vezes e à custa de altos investimentos em dinheiro (já que toda peça é previamente pensada, e algumas são projetadas especificamente para ferir a regra vigente, ou tirar vantagem de suas brechas), imagine se os engenheiros não vão criar códigos, ou maneiras sutis de – sem custo financeiro – tentar tirar alguma vantagem. Chega a ser quase lógico que, sem gastar um centavo, eles irão mais uma vez tentar se beneficiar em uma área onde é imensamente complexa a verificação do uso códigos ou onde até uma simples entonação diferente na fala pode significar para o piloto fazer um determinado ajuste no volante. Não podemos ser ingênuos a ponto de pensar que onde há uma brecha - e nesse ponto há várias - ela não será aproveitada.

Pois bem: poucos notaram ou noticiaram, mas o diretor técnico Charlie Whiting admitiu na Inglaterra que estão sendo passadas mensagens codificadas entre engenheiros e pilotos durante as corridas.

Tudo isso torna a regra atual do rádio ineficaz, quase inútil. Enquanto a comunicação boxe-carro existir, haverá uma dezena ou centena de modos de se passar uma mensagem que apenas piloto e equipe, já combinados previamente, saberão na realidade do que se trata.

No caso de Rosberg em Silverstone, foi visível e havia um problema no carro. Mas será que é sempre assim?

A única maneira de se garantir que ninguém tire vantagem de comunicação de radio é
anulá-la em sua totalidade. É proibir totalmente a conversa e transmissão de assistência entre pilotos e equipes - a não ser uma mensagem para abandonar ou algo semelhante, como um acidente à frente, algo assim.

Piloto de corrida não precisa, ou não deveria precisar de rádio para correr e ganhar um GP. O rádio não deveria ser imprescindível para que um competidor derrote seus adversários. E esse é o problema maior em torno deste tema e um dos principais a serem discutidos na Fórmula 1 atual. Mais do que a "correção de defeito" que a Mercedes fez com Rosberg, deveríamos pensar nos motivos pelos quais o carro de Fórmula 1 não pode mais ser pilotado apenas por um único ser humano.

É o que faremos no próximo post, a ser lançado aqui em breve.

26 comentários:

  1. Respostas
    1. Precisamente, meu caro. Próximo post vamos apertar um pouco esses botões!

      Abraço!

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  2. Interessante a opinião sobre rádios em geral, vir antes de uma sobre um radio expecifico...
    Tenho minhas duvidas sobre a utilização do radio como uma ferramenta que aumenta o desempenho dos carros ser algo benefico ou nao... é algo que acho levarei algum tempo para concluir, porém, atualmente, a regra é muito "aberta a interpretação", digo pelo seus inumeros paragrafos, que no fim das contas, só servem para deixar a regra mais condicionada (tal qual uma lei brasileira)
    O basico que sei dessa regra, foi-me ensinada pelos podcasts "F1 Brasil" e "Café com Velocidade", e, pelo que me lembro, ela diz que a equipe pode ajudar um piloto, que esteja com problemas que causariam um possivel abandono, motivo inclusive pelo qual Toto disse q os fiscais de prova nao sabiam a regra.
    Junto com a questão do rádio do Rosberg, veio a questão do radio do Hamilton, Raikkonen, e a falta de radio que causou um abandono do Perez.
    Pela minha analise da regra, a Force India, errou a nao alertar Perez sobre os freios, ja que a regra consta essa excessão.
    Kimi e Lewis nao obtiveram uma resposta como a do Nico, pelo seguinte: eles queriam aumentar o desempenho.
    Lewis questiona sua equipe pedindo uma dica para aumentar sua velocidade no GP da europa, e, sabidamente a Mercedes responde "não podemos te dar estar informação", e com Nico, ele teve um problema, que caso nao fosse resolvido, ele seria forçado a abandonar, pois fazer as duas ultimas curvas em 7ª marcha, não são condições favoraveis a permanencia em uma corrida proxima ao fim.
    Vou alem do radio, para falar sobre a punição, que pelo que eu pude interpretar, foi injusta, e contradiz parte da regra...
    A questão que fica é, por que Toto e a Mercedes decidiram desistir de de provar seu ponto?

    Desculpe pela extensão do comentario
    Abraço, Campos

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    1. Muito interessantes suas ponderações, Vinny. A questão do Perez fico pensando se foi algo que a equipe sabia mesmo, pois às vezes alguns problemas não dão aviso antes de acontecer.

      Abraços e escreva sempre!

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  3. Se na MotoGP não há rádio e as coisas vão bem, por que haveria o rádio de ser necessário na F1. #PraPensarNaCama

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    1. Excelente a ponderação, Barros. E trata-se de um campeonato que também utiliza fortemente a tecnologia de ponta.

      Obrigado pela contribuição.

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  4. Que fiquemos só com a Placa na reta dos boxes.

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    1. Que é simples, não fere os princípios do esporte e diz aquilo que é necessário numa corrida de carros!

      Abs!

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  5. Assino embaixo. Ou acaba o rádio ou libera. E não serve o argumento de que os carros são muito complicados. Ora, façam carros mais simples!

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    1. Exatamente! Se não forem mais "simples", o simples fato de não precisarem ser ajustados a cada curva ou volta já muda o "plano de jogo"

      Abs!

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  6. Eu acredito que por mais tradicional que a F1 seja, ela não tem como voltar atrás. Em 2016, grandes empresas como Ferrari, Mercedes, McLaren não vão se dar ao luxo de perder corridas (e milhões) porque não podem se comunicar com seus pilotos.

    Olhando dessa forma, considero totalmente coerente que nesse esporte em equipe o piloto seja apenas uma parte, importante, é verdade,
    mas apenas o que ele é, o condutor de um veículo de corrida que tem milhares de horas e dólares investidos.

    Para conduzir bem uma máquina de alta tecnologia, nada mais natural que uma equipe de pessoas para auxiliar o piloto.

    Essa regra de restrição à comunicação é ridícula na minha opinião. Estou com o Bruno: ou proíbe ou libera, a exemplo de ordens de equipe.

    Agora, já dando minha visão, acho que dificilmente as equipes aceitarão restrição, portanto o caminho é liberar mesmo e deixar o pau quebrar como está.

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    1. Você tem de fato um argumento, mas entre o liberar ou proibir sugerido por vocês, eu ainda fico com o "proibir".

      É um campeonato de pilotos, que para mim ainda são mais importantes que as equipes. Nada melhor do que deixá-los "brigar" na pista.

      Abraços e seja bem vindo! hehe!

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    2. Fábio, o problema (já debatido exaustivamente) é que na há meios de a proibição ser efetiva porque as equipes podem facilmente criar códigos para isso, como já fizeram com as ordens de equipe.

      Na minha concepção, proibir vai apenas criar novos problemas por essa questão meramente prática de que a proibição é, no fim das contas, impossível.

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    3. Sim, a questão dos códigos foi abordada no post acima, inclusive. Concordamos.

      A proibição do modo como está é ineficiente. Mas a proibição total ainda acho que poderia ser colocada em prática!

      Abraços.

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    4. Acho que venceu o bom senso. Comunicação via rádio liberada!

      Ainda bem! Hehe!

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    5. Não venceu o bom senso. Venceu a força das equipes e perderam aqueles que não tiveram competência para saber traduzir, na prática, a ideia que tinham sobre intervenções dos boxes nas corridas.

      E venceram também os engenheiros, que voltam a ter a capacidade de "pilotar" os carros dos boxes.

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  7. Também não vou entrar no mérito de justiça ou não.
    Fico com a simples visão de que é regra e ponto: siga-a.
    Agora, esta é a visão da gente aqui de fora. Que não ganha e nem perde nada com as punições.
    Visto pelo lado das equipes, há outros pontos.
    A Mercedes sabia da regra, sabia das implicações e das possíveis punições.
    Jogou e jogou bonito com a regra e sua consequência: melhor ter dez segundos de punição e perder (já com as contas feitas aquela altura) dez segundos e uma posição no final da prova do que se arriscar a travar o carro na sétima e ficar sem ponto algum.
    Foi jogada de mestre.

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    1. Verdade quando diz que a Mercedes sabia da regra. Eu ainda acho que tinham esperança de "reverter" a punição argumentando que se tratava de um defeito no carro.

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  8. Onde ficariam as melhorias tecnológicas se removermos o rádio ou os botões do volante?

    Sou a favor do rádio. Acho que ele auxilia em muito a evolução do carro e a busca pela perfeição que creio ser o diferencial da categoria máxima do automobilismo.

    A F1 evolui constantemente no decorrer dos anos. A indústria automotiva deve ser muito grata à categoria por suas pesquisas em pista.

    Em contrapartida, se perde muito pela esportividade mas no final das contas, desde sempre não se visou o lucro?

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    1. Não leia o meu post seguinte!!!! hehe

      Grande abraço e obrigado pela visita, "Sr Soares". Apareça sempre!

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  9. Boa reflexão, Campos.

    Sinceramente acho que, ainda além do assunto rádio, existe um parênteses que precisamos fazer sobre as regras em si.

    Concordo com o texto e os colegas no comentário que dizer: Ou libera o rádio sem restrições, ou proíbe o rádio.

    Por que, sejamos sinceros, meio termo não dá!

    A F1 é um esporte onde DESDE SEMPRE as equipes buscam meios de se "aproveitar" das regras e suas brechas. Desde Collin Chapman até hoje, os amigos engenheiros estão sempre buscando meios de fazer o carro se dar melhor na pista. Não é de hoje e, mais importante, não é errado!

    Existem quebras de regra irregulares, na sacanagem mesmo, que são realmente erradas e devem ser punidas. Porém, existem leituras e adaptações das regras existentes que simplesmente não são "crime" e fazem com que alguns se deem melhor que os outros. A mini-saia, o aerofólio, o controle de tração, o câmbio semi-automático, etc., etc., etc... tudo isso já foi uma "adaptação" das regras que simplesmente foram banidas ou adotadas, mas que fizeram a diferença para uma equipe em um dado momento.

    A F1 é a luta eterna pela performance. É a busca eterna pela melhor tecnologia. Por isso não podemos esquecer que "se aproveitar das regras", desde que não de forma ilegal, é o trabalho dos caras que estão lá desde sempre.

    Posto isso, acho que o grande problema é que hoje as regras da F1 são tão COMPLEXAS, existem tantas linhas, que é muito fácil você encontrar brechas!

    Pega a constituição do Brasil, enorme, do tamanho de um dicionário, que tenta abarcar tudo, e veja quantas leituras diferentes os juristas conseguem fazer dela!

    É muito mais fácil você encontrar brechas na seguinte frase:

    "Instruções para selecionar padrões no volante devem ser com o único propósito de evitar a perda de função de um sensor.”

    Do que simplesmente:

    "É proibida toda e qualquer comunicação por rádio entre a equipe e o piloto."
    ou
    "Está liberada toda e qualquer comunicação de rádio entre equipes e pilotos."

    Não dá para esperar que os caras que gastam milhões de dólares buscando 1 décimo de segundo de melhoria no túnel de vento não tentem encontrar uma forma de conseguir manter contato com o piloto para ter o melhor carro na pista, conforme apontou no texto o Fabio Campos.

    Toda e qualquer regras, quanto mais simples e direta for, menos variações vai gerar. Rádio é "libera" ou "não libera". Fora isso, você só vai gerar dúvidas e descontroles.

    Está na hora da F1 rever suas regras para menos, porque para mais claramente não está dando certo.

    Abraços!
    Eilor Marigo

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    1. Ótima lembrança dos "dribles" nas regras que não se caracterizaram como ilegalidades. Seu comment já seria uma ótima "parte 2" do texto.

      A "Coluna do Leitor" se beneficiaria muito de suas análises!

      Abraços Êilor (ou Eilôr)?!

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    2. Pretendo participar com textos sim. Aliás, tem um que vou te mandar assim que concluir uma pesquisa aí...

      Hahaha... Eilôôôr!

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    3. Melhor notícia que essa eu não poderia receber! O espaço é seu, meu caro.

      Abraços!

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  10. Acredito que estamos em sintonia de pensamento Campos! Saindo do mérito da questão, essa regra do rádio é patética.

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    1. Agora já podemos dizer no passado: "era"..... Não souberam implementar, definitivamente. A ideia era boa, a execução, nem tanto...

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