quarta-feira, 4 de abril de 2018

O mal que a Haas não faz

"Permitir parcerias como a de Ferrari-Haas seria estender a mão para a entrada de equipes de corrida ao invés de incentivar apenas a chegada de grandes corporações, montadoras gigantescas, que pensam mais em seus balanços financeiros do que no crescimento do campeonato a longo prazo"




Ataques e insinuações pelo desempenho da Haas começaram após o Grande Prêmio da Austrália. O que me trouxe à mente, antes de qualquer coisa, a ideia de que as acusações só vêm à tona na Fórmula 1 quando quem supostamente burla o regulamento consegue de fato um resultado. A relação da Haas com a Ferrari existe desde 2016, ou seja, fica no ar algo como "pode-se agir de forma ilegal desde que não se andem à frente de alguns".

Mas vamos Além, como demanda o título do blog...

Antes de mais nada, são ataques e acusações que até agora não trouxeram nenhuma comprovação técnica - e não tenha dúvida caro leitor/leitora que as equipes podem muito bem indicar (de forma precisa e nada genérica) o que de fato há de ilegal sob a carenagem de um concorrente. Jamais subestime a capacidade de conhecimento mútuo que estes times possuem e que os fãs sequer sonham em saber.

O que muitos dos integrantes da Fórmula 1 não percebem - com seus olhares limitados e que se pautam unicamente no interesse próprio e que os tornam portanto incapazes de pensar no NEGÓCIO como um todo - é a oportunidade que o “fator Haas” pode trazer para uma saudável mudança no futuro da categoria.

A Fórmula 1 não é um esporte caro. É um esporte caríssimo. A estrutura e os investimentos mínimos necessários para participar do circo inviabilizam que o grid aumente quantitativa e qualitativamente. Seria fundamental que NOVOS participantes se juntassem ao “espetáculo”. A Fórmula 1 vive há décadas a “era da assimilação de times”, ou seja: quem quer entrar tem quase como única alterativa comprar uma equipe do grid. Convenhamos, é bem mais barato do que levantar um prédio inteiro para transformar em fábrica ou contratar centenas de pessoas começando do zero, só para citar 2 exemplos.




Você sabe quantas equipes, nos últimos 20 anos, entraram na Fórmula 1 criando estrutura própria, consequentemente levando o número de carros no grid a crescer? Foram SEIS... Seis em 20 anos! Toyota, Super Aguri, Caterham, Virgin e HRT, além claro da Haas. Dessas, 4 sucumbiram por absoluta falta de condição. E ao invés da Fórmula 1 explorar um raro “case de sucesso” como o do time americano, ela o enxerga com suspeita ou algo oposto ao que se chamaria de "braços abertos"

Que fique claro: evidentemente regulamentos existem para serem cumpridos. Não se defende nesse espaço que se faça vista grossa para os “fora da lei”.

Mas por que – às vésperas da Liberty Media implementar um novo modelo de funcionamento no esporte – não discutir o caso Haas pensando em aproveitar um experimento que está dando certo? Por que não possibilitar que Haas até possa ser de fato uma filial da Ferrari, ainda que temporariamente (a MotoGP, por exemplo, dá condições especiais para equipes novatas e as subtrai à medida em que esses times vão conquistando resultados na pista)?

A Fórmula 1 pode estar jogando pela janela uma oportunidade de passar uma mensagem que soaria como um convite a outros interessados pelo mundo. Permitir, mesmo com alguns limites, um estreitamento de parcerias como a de Ferrari-Haas seria estender a mão para a entrada de equipes de corrida ao invés de incentivar apenas a chegada de grandes corporações, montadoras gigantescas, que pensam mais em seus balanços financeiros do que no crescimento do campeonato a longo prazo.

A excelente oportunidade de 2010 foi jogada fora... Se Manor, Caterham e HRT tivessem recebido um mínimo do que lhes foi prometido, muito provavelmente a Fórmula 1 teria hoje um grid com 26 carros... Que a categoria não desperdice a oportunidade de se aproveitar da esperteza e competência da Haas F1.

24 comentários:

  1. De acordo, Fábio! Expandindo um pouco mais o seu raciocínio: quantos pilotos que tiveram que mudar seus planos, pois o funil para a F1 era estreito teriam a oportunidade de fazer pelo menos uma temporada na categoria com essas vagas disponíveis? E para o fã um grid cheio é mais suculento, com mais variáveis para se apreciar.

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    1. Perfeito. Mais 6 vagas ajudaria não só a F1 como iria "turbinar" várias categorias de acesso.

      Abs!

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  2. Acho que equipes filhotes não seria a solução ideal, talvez um regulamente capaz de equilibrar as forças, atrair mais montadoras que fizessem parceria com as equipes, como ja tivemos no passado, Ex:Grid 1985 - Brabham BMW-Lotus Renaut-Maclaren Porshe-Willians Honda-Ferrari Ferrari-Benetton Alfa Romeo(ainda não pertencia Fiat)-Tyrrel Ford e eram parcerias de fato com essas fábricas de carros,aporte financeiro, ténico etc...

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    1. A questão pra essas montadoras é o custo de desenvolvimento, apos a entrada da Liberty, a Aston Martin, Cosworth, Ford e grupo VW começaram a olhar de novo para a F1, graças ao plano de redução de custos de motor.
      No final das contas, tudo gira em torno de dinheiro!!

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    2. Antonio, você colocou uma questão importante e já pensei bastante neste tema. Uma F1 só com montadoras possui, é claro, o seu lado positivo... Mas não acho interessante eliminar as equipes independentes. Algumas delas, ao se associarem com fábricas, correm o sério risco de desaparecer no dia em que uma montadora não quiser mais fazer parte da categoria. Montadoras vêm e vão, o que é positivo. Mas equipes como McLaren e Williams, se tiverem condições financeiras, ficam para sempre.

      Apareça sempre por aqui!

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  3. Estava esquecendo, por regulamento, não podemos ter mais que 22 carros, no começo da década de 90, existiam, salvo engano, quatro carros que eram eliminados com os piores tempos na classificação

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    1. Antonio, a limitação que existe hoje é de 26 carros. Tivemos 24 há pouco tempo, logo ali em 2010, com as citadas HRT, Caterham e Manor....

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  4. Outra coisa que poderia ser resgatada do passado são as equipes com um carro só. A obrigatoriedade de ter dois carros também aumenta os custos... Nem que se fizesse uma pré-classificação, mas acharia melhor aumentar esse limite do grid para 26 como era nos 80/90.

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    1. Não sei Cristiano. Uma equipe com apenas 1 carro pode gerar até mais dificuldade de conseguir patrocinador "master". E mesmo conseguindo pagariam metade do preço, pois haveria 50% menos exposição. Seria comprar 1 Outdoor ao invés de 2... Talvez não mudasse muita coisa. A solução é redistribuir os custos, fazer as equipes mais lucrativas, e com um pelotão mais próximo... Competitividade + Oportunidade financeira é grid cheio na certa.

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  5. Saudades dos grids dos anos 80/90. Lembro bem, de como era emocionante, assistir o qualy e além da expectativa de quem seria pole, havia também a expectativa de quem ficaria de fora do grid. Concordo com o amigo que citou acima.. o problema das equipes hoje, serem obrigadas a inscreverem dois carros.. num época de custos altíssimos, um regulamento que peemitisse um carro só por equipe e a manutenção das parcerias, seria uma saída para os grids tão enxutos e tão desproporcionais em matéria de equipamento. .

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    1. Pode ser um caminho... Mas como respondi ao Cristiano (acima), pode ser também inviável para os times, pois teoricamente venderiam "metade" do que as outras vendem. A questão principal é a redistribuição dos custos e equiparação técnica.

      "Competitividade + Oportunidade financeira é grid cheio na certa".

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  6. Cara, to contigo e nao largo sobre essa ideia. Mas aí entra a pergunta que joguei no grupo, dias atras. A STR tinha uma parceria exatamente igual com a Red Bull e lhe foi proibida o direito de manter. Por isso, foram obrigados a fazer estrutura propria e acabou encarecendo ainda mais os custos para o grupo Red Bull.

    Aí agora, permitem para a Ferrari-Haas. Aí fico levantando aquela famosa bola do "Ferrari pode tudo na F1" e isso sim pode tb estar destruindo o esporte.

    Bom, SE FOR ABERTO A TODOS, acho excelente que se mantenha. É o primeiro passo para se permitir que equipes possam comprar chassis de outras equipes maiores no futuro e assim voltar aos bons tempos que a F1 era competitiva e nao elitista.

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    1. Muito bem colocado, Ricardo. A questão que até esbarrei "de leve" no texto é que até agora nada foi comprovado. A FIA poderia facilmente identificar numa vistoria técnica as tais "partes iguais". Mas é como você citou: mesmo se for o caso, que se permita a Red Bull fazer também (austríacos precisam ser espertos nos bastidores nesse momento) e façam da Toro Rosso uma equipe mais forte.

      Bom vê-lo por aqui! Abraços!

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  7. Boa Tarde.
    A F1 é um espetáculo, como jogo de futebol, uma grande luta de boxe, um campeonato de tênis etc..., envolve midia, patrocínio, esportividade e despesas. Só que a F1 tem custos tão astronômicos que afugentam empresas bilionárias como as grandes montadoras, cidades ricas abdicam de patrocinar uma corrida em seus países, pelo tanto de dinheiro que envolve. Ouvi comentários que São Paulo pensa em não renovar seu contrato com a F1.
    Resultado, corridas chatas, muita disparidade entre as equipes, um único time dominando as temporadas e agora, ainda por cima, inventaram um modelo de carro que não consegue realizar ultrapassagens.

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    1. Antonio, mais do que os custos astronômicos o problema é que o retorno para quem gasta é limitado. Quanto à São Paulo, já recebem um enorme "desconto" da Fórmula 1: o Brasil é um dos países que paga mais barato para trazer o circo pra cá. A meu ver, a ameaça para a corrida é a Globo se "desinteressar" pelo GP.

      Obrigado por todas as contribuições que acrescentou ao texto!

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  8. E uma solução a curto prazo. A longo prazo a categoria ficaria ainda mais nas mãos da grandes equipes.

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    1. Corretíssimo. Não pode ser "a" solução definitiva.

      Mas pense como um 1º passo que encha o grid. Não seria mais fácil trabalhar o equilíbrio a partir de um grid repleto de competidores?

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  9. Fico pensando na concorrência que a F-E e seus desdobramentos oferece à F1 no quesito tecnologia. Os avanços para termos carros elétricos nas ruas é mais breve que o avanços que a F1 traz atualmente para a indústria. Não é algo (carro elétrico popular) que fará diferença global a curto e médio prazo, na minha opinião, ao ponto em que sucumba a F1, entretanto é um fator que não pode ser ignorado. A LM, a partir de 2021, não terá tempo para cometer erros.

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    1. Será que é de fato fundamental para a Fórmula 1 ser relevante para a indústria automobilística nos próximos anos?

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  10. Acho que hoje o foco da industria automobilistica, esta voltado para energias sustentáveis, limpas, economia, segurança, veículos auto dirigiveis, airbags externos para evitar dano ao pedestre em caso de atropelamento etc... As soluções tecnológicas da F1 estão sendo usadas nos super esportivos de rua, que custam centenas de milhares de dólares

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    1. Portanto: Será que é de fato fundamental para a Fórmula 1 ser relevante para a indústria automobilística nos próximos anos?

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  11. Campos, interessante o assunto levantado, mas tem um fator que simplesmente não vi ninguém considerar até o momento no caso da Haas, nem mesmo vocês.

    Leio críticas e elogios a esta parceria Ferrari-Haas, mas não vi ninguém questionar o porque dessa associação, objetivamente.

    Na minha modesta e humilde opinião, o mais importante disso tudo é entender o porque da Ferrari se dedicar a esta parceria, sendo que ela própria possui um time principal (que é a joia da marca) e outras equipes-filiais de mais longa data que podem (e devem) contribuir com os testes técnicos e experimentações.

    Para mim é muito clara a principal diferença, dentre tantas, da Haas para uma Williams ou uma Sauber sob os olhos das grandes fornecedoras da F1: Gestão.

    Desde que a Haas entrou na Fórmula 1 lembro que levantei a bola - em um Podcast, se não me engano - de que uma das maiores armas que esta equipe teria no futuro seria sua gestão. Gene Haas não é um amador, não só no automobilismo mas também no mundo dos negócios. E esse conhecimento certamente chamou atenção da Escuderia ao longo do tempo.

    Particularmente acredito que hoje o grande (GRANDE) problema das equipes pequenas e médias não está debaixo do capô nem dentro do cockpit, mas sim lá nos boxes, com fones de ouvido e decisões complicadas na ponta da língua.

    Hoje acho bem transparente o fato de que Claire Williams e Frédéric Vasseur mostram claramente o quanto uma gestão ruim pode ser nociva, já que do outro lado do escopo, Gene Haas e Vijay Mallya mostram que um orçamento apertado muito bem investido rende mais frutos do que uma montanha de dinheiro sem gestão.

    Todo santo debate sobre Fórmula 1 termina com "O que move esse esporte é o dinheiro" e já estamos cansados de escutar isso, que não está errado, é verdade, acho muito óbvio, não querendo generalizar, que as equipes com boa gestão recebam mais apoio e interesse das grandes, vulgo, montadoras.

    Mais do que se tornar uma grande equipe, permanecer na Fórmula 1 como uma equipe estabelecida com bons acordos e bons equipamentos requer algo mais do que uma montanha de dinheiro. Requer confiança no projeto. Como qualquer negócio, a confiança só vem com boas bases e bons resultados, mas não tarda em gerar benefícios.

    Acho que a Haas está fazendo por merecer, construindo uma base de gestão sólida que é bem a cara de Gene Haas. Quanto aos frutos (e até desconfiança) que estão colhendo disso, não me surpreendem nem um pouco e acho que, isso sim, deveria ser observado e replicado por outras pretendentes à categoria.

    Cortar os custos e facilitar parcerias com equipes "madrinhas" sem dúvida beneficiaria e facilitaria acesso ao gride. Porém acho que uma padronização ou auxílio de gestão seriam ainda mais benéficos para qualquer entrante no mundial. Não existem bons contratos sem confiança no projeto, repito.

    Sem dúvida é difícil ter fôlego para chegar até ali. Muitos bons gestores não conseguem. Mas para aqueles que sabem onde estão se metendo, se preparam como Gene Haas, a colheita tarda mais não falha. Para mim é a pedra fundamental para toda e qualquer equipe pequena ter o direito de sonhar em perdurar ali.

    E este é um ponto que, entre tantos debates técnicos, motivacionais, etc. vejo muito pouca gente levar em consideração: A importância de uma boa gestão dentro da concorrência empresarial da Fórmula 1.

    Que o projeto da Haas seja um mapa para todos estes que estão de olho na categoria.

    Abraços e aguardo mais conteúdo!

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  12. Eilor, tão bem colocado como didático. Então vou por pontos:

    - A questão da vantagem da Ferrari nisso tudo é financeira. A Haas logicamente paga à Ferrari por suas peças, então o que os italianos "tiram" dessa parceria é vantagem financeira. Além do mais, é sempre bom alguém gerar mais milhagem com "seu" motor, pois informações / dados são vitais.

    Quanto à gestão, você tem toda razão. Uma equipe gerida por "gente de corrida" faz toda a diferença. Um número gritante e que reforça esse seu ponto é o número de funcionários: A Haas possui pouco mais de 200 pessoas (Red Bull tem mais do que 700 - confirmado por Christian Horner - e esse número é ainda maior no caso da Mercedes, algo em torno de 900 pessoas). Ou seja, um ótimo exemplo de bom aproveitamento de material humano.

    Outro fator que seu comentário me fez lembrar é a Dallara. São eles quem produzem os chassis da Haas, e assim como os americanos, os italianos não nasceram ontem. Possuem knowhow de corridas e fabricação de equipamentos de alto nível - vide Fórmula 2.

    Sua visão como sempre amplifica o tema e torna o nível da conversa por aqui ainda mais elevado!

    Abs!

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