quinta-feira, 29 de março de 2018

O que a Fórmula 1 nos ensina a (não) esperar dela

"Não há algo errado quando passamos a encarar como normal o fato de não vermos aos domingos pilotos rasgando uma reta lado a lado, decidindo uma prova na última volta ou mesmo um piloto que, sozinho, tem uma atuação tão brilhante que vale pelo GP?"




A Fórmula 1 encerrou no domingo, com o GP da Austrália, o tradicional período de 4 meses sem corridas. Na fase sem GPs, a atividade comum aos fãs da categoria é especular, ou no máximo tentar extrair algo do que foi visto nos poucos testes que tivemos. E quando entramos no período em que contam-se os dias para os carros entrarem pela 1ª vez na pista, surge aquilo que faz aumentar a ansiedade da espera: nossa imaginação começa a "trabalhar"... Passamos a mentalizar as possíveis disputas que, caso se concretizem de fato, seriam a materialização do que há de melhor nas corridas de carros.

E com isso já chegamos ao ponto principal desse texto: Qual o tamanho da diferença que existe hoje entre o ápice em uma corrida de carros e o atual ápice em corridas da Fórmula 1?

O leitor que honra o blog ao emprestar seu tempo para ler esse texto já parou para pensar o quanto limitamos - até inconscientemente - nossas expectativas e o que esperamos em termos esportivos do Campeonato Mundial de Fórmula 1? Até onde vão nossas ambições nesse início de temporada? Elas vão até onde a Fórmula 1 nos acostumou? Ainda esperamos de fato o “algo mais” que a Fórmula 1 deveria entregar mas que já não nos entrega nem nos mais otimistas dos sonhos?

Não estou me referindo a corridas com elevado número de ultrapassagens (sobre isso, esteja certo que conversaremos outras vezes ao longo de 2018), me refiro nesse texto a algo que vai além disso (obrigatório nessa “reestreia” surgir um trocadilho com o nome do blog). Me refiro às corridas que deixam marcas, daquelas que duram anos, seja por qual motivo for... Me refiro aos GPs inesquecíveis, ou às atuações épicas de qualquer que seja o piloto. Você, leitor ou leitora, ainda espera corridas inesquecíveis ou ainda sonha com corridas inesquecíveis? Há grande diferença entre esperar e sonhar. Certas ambições se tornaram apenas isso: sonho

Certamente o leitor se lembra com rapidez os seus GPs inesquecíveis... Com certeza eles existem. Mas de quantos em quantos anos estamos vendo corridas assim? Momentos inesquecíveis talvez deixem marcas exatamente por não ocorrerem com frequência... Mas não haveria algo errado quando nos acostumamos a não esperar, e passamos a encarar como normal o fato de não vermos aos domingos pilotos rasgando uma reta lado a lado, decidindo uma prova na última volta ou mesmo um piloto que, sozinho, tem uma atuação tão brilhante que vale pelo GP?





No começo do mês de Abril serão completados 25 anos de uma atuação individual que até os dias de hoje é reverenciada no mundo inteiro (e não apenas no Brasil): a histórica pilotagem de Ayrton Senna em Donington Park, em 93.

A data induziu este que vos escreve a essa reflexão: com que frequência assistimos atuações épicas de um piloto de Fórmula 1 - daquelas que não nos esqueceremos tão cedo? Quantas pilotagens memoráveis você se lembra ter visto e, ainda mais importante, dentro de quanto tempo você espera ver a próxima?

Respeita-se o fato de que nem todos que assistem corridas buscam, no fim, o mesmo objetivo: alguns apenas gostam de ver os carros, outros curtem a tecnologia, e outros assistem por serem fãs de um ou outro piloto... Mas para aqueles que buscam a Fórmula 1 pelo lado esportivo, para os interessados acima de tudo no que acontece dentro da pista e que vibram ao testemunhar grandes espetáculos, para esses faria toda a diferença se tivéssemos, uma ou outra vez por ano, corridas que não saíssem tão cedo da nossa memória.

6 comentários:

  1. Campos, lendo seu texto me lembro quando estávamos com outros fãs do espetáculo em Interlagos 2016 onde o menino Max mostrou sua perícia bo molhado. Aquela corrida é uma exemplo da burocracia imposta nas incansáveis voltas do SC versus o talento de um único piloto que salvou o show.
    Pena que esse sentimento tão forte ocorre de tempos em tempos.

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    1. Primeiro comentário da nova fase!

      Agora pense por quanto tempo aquele GP do Brasil vai permanecer na sua memória!

      Abraços!

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  2. Infelizmente ficamos só no sonho. Não acredito que no atual contexto da fórmula 1 tenhamos pilotos que venham a se destacar. Isso vai ficar restrito a outras categorias, que não tem tanto prestígio e visibilidade. Categorias essas que permitem o acesso de pilotos talentosos, que não ficam "engessados" em regulamentos que priorizam interesses de uma minoria ..

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    1. Honrado já fico com sua aparição tão rápida!

      Eu até acho que dependendo das condições da corrida é possível algo como Verstappen fez em Interlagos 2016. A questão é o quão raro esse tipo de coisa acontece...

      Obrigado!

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  3. Não creio que esta geração espetacular que temos nos deixarão assim tanto tempo sem algo espetacular. Ano passado, por mais que as corridas não tenham sido vibrantes do início ao fim, geralmente sempre teve seus bons momentos. O próprio Verstappen citado acima, antes das quebras que o atordoaram na primeira metade, fez grandes ultrapassagens. Será que a Austrália não te deixou por demais pessimista?

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  4. Mas o texto não nega que boas atuações e boas corridas estejam vez ou outra presentes na Fórmula 1. A questão são as atuações de fato inesquecíveis, ou os GPs que são lembrados por anos e anos... Quantas ultrapassagens ou corridas de 2017 serão lembradas por anos e anos?

    A corrida na Austrália, como citei no Café com Velocidade, não foi diferente do que eu esperava.

    Abraços e obrigado!

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