"Rosberg é perfeitamente capaz de derrotar Hamilton em uma prova. Mas vencer um campeonato mundial envolve outras qualidades"
O mundo soube
no fim de semana do GP da Hungria, uma semana antes da vitória de Lewis Hamilton em Hockeimheim que o piloto inglês e Nico
Rosberg terão a oportunidade de duelar pela Mercedes até o fim
de 2018. A notícia pode ser considerada boa, porque já se criou em torno dessa
rivalidade uma expectativa que aumenta o interesse de todos pelas corridas, pelos
bastidores da equipe e, principalmente, pelas disputas travadas pelos 2 dentro
da pista.
Mas até que
ponto vai o equilíbrio na briga entre Lewis Hamilton e Nico Rosberg? Sim,
estamos vendo um campeonato disputado no estilo “cabeça a cabeça”... Mas o
quanto 2016 reflete a realidade? Quais as chances de 2017 e 2018 repetirem uma
briga pelo título tão equilibrada?
Vamos tentar
avaliar juntos a resposta para essa pergunta, sendo que o leitor mais atento poderá lembrar que, se
em 2016 a disputa pelo título deve ir
até o final do campeonato, em 2014 também foi assim. Já a temporada 2015 foi
vencida por Hamilton com ampla antecedência.
Insiro nesta discussão um detalhe para o leitor refletir: durante todo o ano de 2014 e em boa parte
de 2015, apenas Hamilton tinha executado ultrapassagens em cima de Rosberg.
Este é o ponto que creio ser o mais interessante na análise do belo duelo que
existe na Mercedes: o confronto direto, ou a disputa direta dentro da pista.
Nico Rosberg
é um piloto com muitos méritos. Sem dúvida é um caso de competidor que soube
evoluir, que elevou seu nível de pilotagem ao enfrentar companheiros de grande
calibre. E esse talvez seja o maior mérito de Rosberg na briga contra Hamilton:
conseguir fazer frente ao seu rival, conseguir bater de frente com um piloto
claramente mais talentoso. Barrichello, Massa, Fisichella e Irvine foram alguns
que sucumbiram e pouquíssimas vezes incomodaram seus rivais diretos.
Rosberg não.
Rosberg de fato incomoda Hamilton. Já mostrou que sabe aproveitar chances e
tirar proveito do super carro que pilota (o que Mark Webber, por exemplo, não
conseguiu na maioria das oportunidades que teve). Nico é mais valioso do que
todos estes citados acima. É um piloto que dentro da pista - como na Áustria, por exemplo - já
mostrou postura, mostrou personalidade
(infelizmente o universo das assessorias de imprensa que perpetuam a cultura da
boa imagem o impedem de fazer o mesmo fora dela).
Mas sua
batalha não é fácil... Por maiores que sejam seus méritos, o alemão
definitivamente não está enfrentando um adversário qualquer. Ele luta contra um
piloto magnífico, um tricampeão do mundo capaz de encarar qualquer adversário, e que desde as
categorias de base já deu incontáveis demonstrações de técnica e arrojo, sem
falar na velocidade que até para possíveis detratores é difícil contestar.
Voltamos,
portanto, à questão do confronto direto,
ou seja, às corridas em que os dois se enfrentam sem problemas mecânicos ou
eventuais intempéries.
Quantas vezes
já vimos Rosberg dominar os treinos do fim de semana e na volta final do Q3,
aquela que decide a classificação no sábado, Lewis Hamilton conquistar a pole
em uma única tentativa (coisa que, justiça seja feita, Rosberg fez na Alemanha)? Quantas ultrapassagens Rosberg já executou sobre
Hamilton e vice-versa nestes 3 anos de Mercedes?
Lewis
Hamilton tem a seu favor algo que, ao menos por enquanto, ainda é fundamental e
faz a diferença na Fórmula 1: o talento
nato. Para derrotar Rosberg, o esforço que Lewis que precisa fazer – não há dúvidas
que ele de fato tem que se esforçar – é menor do que aquele que Rosberg precisa
fazer para derrotá-lo.
O piloto do
carro número 6 andou muito no começo do ano. Atuações irretocáveis, eu diria (em relação às corridas finais de 2015, posso estar errado mas não enxergo as
disputas pós-decisão do título como sendo iguais às provas em que a taça ainda
estava em aberto). Mas os problemas de Lewis Hamilton no início de 2016 foram claramente o que chamo de "fatores externos" –
muitos deles, mecânicos. E mesmo com as 4 vitórias iniciais de Rosberg, o líder
do mundial já é Lewis Hamilton.
Atentemos
para dois dados que fui buscar e que ajudam a ilustrar a linha de
pensamento deste post: nas corridas em que largaram juntos na 1ª fila (excluindo portanto os GPs com punições de grid ou problemas que algum deles tenha enfrentado no
sábado e reforçando portanto a questão do confronto direto) Lewis Hamilton
venceu Rosberg em 20 ocasiões,
contra 12 vitórias do alemão.
Outro dado
que creio ser interessante: contando também apenas corridas em que ambos
“fecharam” a 1ª fila, quantas vezes o piloto que largou em 2º levou
vantagem e venceu, “revertendo” a pole do rival? A supremacia é novamente de
Hamilton: 9 vezes ele bateu Nico
partindo da 2ª posição, contra 5 ocasiões
em que Rosberg perdeu no sábado mas venceu no domingo.
Mesmo com
essa opinião, não creio (pelo menos por enquanto) que o Mundial de Fórmula 1 já
esteja decidido. Rosberg tem de fato demonstrado a enorme capacidade de, no
mínimo, saber lutar. Mas creio que a longo prazo ele ainda depende de situações
adversas do rival para ser campeão. Situações que podem e devem ocorrer (Lewis
Hamilton fatalmente perderá 10 posições no grid em um GP, pois restam 9 corridas e ele já “esgotou” o limite de substituição de
algumas partes de seu motor. Lewis também possui duas advertências da direção de prova, e em caso de uma terceira também perderá 10 posições). Em resumo: Nico é perfeitamente capaz de derrotar
Hamilton em uma prova, mas vencer um campeonato é outro cenário.
Mas todo esse
texto envolve, na sua essência, algo positivo: a rivalidade e as disputas em pista entre Nico Rosberg e Lewis Hamilton podem sim marcar a década e entrar para a história
da Fórmula 1. Assim como outras rivalidades do passado, vejo como elevada a possibilidade de, em alguns anos, olharmos para trás e reconhecermos como a grande marca desta
década a rivalidade entre o alemão e o inglês. O que é algo bastante
saudável... Faz muito bem para a Fórmula 1 ter esse tipo de “marca” associada
ao seu passado. Será certamente melhor do que simplesmente lembrar estes tempos
apenas como a “Era Mercedes”.
Campos, com algumas frases desse post (de fato, um post incrivel) vc resumiu uma serie de pensamentos meus.
ResponderExcluirComo vc verá no email em que te mandei, tambem estou de acordo que há possibilidades reais de Rosberg levar esse titulo, mas que os tais "fatores externos" estao ao lado dele, deixando de ser uma pura disputa levada "no braço".
Claro que isso nao diminuirá o gosto da vitória, muito menos o mérito dele, se ele levar o campeonato.
Como muitos dizem "a esperança, é a ultima que morre."
#Go6
Abraços, Vinny
É um ponto interessante esse seu, Vinny: se Rosberg for campeão, será um Título com T maiúsculo de fato. Bem lembrado!
ExcluirAbs!
Nico amadureceu como piloto, mas continua alguns degraus abaixo do companheiro. Por essa razão, é difícil imaginar o alemão vencendo o inglês (mesmo considerando fatores externos, afinal, Rosberg também não está imune a eles). Acredito que teremos mais do mesmo nas próximas temporadas.
ResponderExcluirConcordo com vc, Barros, embora torcendo para que nós dois estejamos errados e que tenhamos bons pegas para "degustar" nos próximos anos.
ExcluirGostei demais das análises com dados. Isso é jornalismo, o resto é tabloide!
ResponderExcluirNão tenho muito a acrescentar neste comentário, mas diria que, mesmo concordando contigo que o inglês está tecnicamente um pouco a frente do alemão, esta disputa Hamilton x Rosberg é o que tem salvado a F1 de conviver com outro período de supremacia de Vettel na Red Bull ou Schumacher na Ferrari.
Por isso, obrigado Rosberg!
Rosberg é importante para a Fórmula 1 hoje... Pra pensar.
Excluir"Tabloide" foi ótima!
Numa corrida normal e com o mesmo equipamento, somente Vettel e Alonso, chegando perto, para alivio da galera o Vestarpen.
ResponderExcluirO Rosberg está somente próximo, que precisa de fatores ecternos para vencer.
Bem observado, Richard. Pena que os carros dos 2 pilotos que você citou não os permita chegar nem perto de Lewis.
ExcluirComente sempre!