"A questão é que pilotar um carro de Fórmula 1 hoje deixou de ser algo que exige puramente habilidade, controle da máquina, braço ou arrojo. Guiar um carro de Fórmula 1 hoje envolve conhecimentos matemáticos, exige que os pilotos sejam quase analistas de sistemas"
A discussão sobre o rádio segue com desdobramentos e novas notícias a respeito de punições, mais rigor nas regras, e outras repercussões. Portanto não há momento melhor para continuar a discussão sobre o rádio iniciada em post anterior.
A discussão sobre o rádio segue com desdobramentos e novas notícias a respeito de punições, mais rigor nas regras, e outras repercussões. Portanto não há momento melhor para continuar a discussão sobre o rádio iniciada em post anterior.
Na minha
visão, toda a questão do rádio tem um fundo muito mais importante a ser
analisado e debatido.
Não tivesse o
carro de Fórmula 1 se transformado num supercomputador sobre rodas, com o
volante carregando muito mais do que uma marcha, um painel e um número
aceitável de funções – como a liberação da mangueira de água, o limitador de
velocidade nos boxes, entre outras que podem e devem existir para o piloto
controlar – toda a discussão sobre o rádio perderia em importância.
A
oportunidade que está se desperdiçando é a de discutir por que o rádio chegou ao ponto de ser prejudicial e usado como
“auxílio na pilotagem” dos carros.
O problema
não é o piloto se comunicar com sua equipe, ou vice-versa. O problema é que pilotar
um carro de Fórmula 1 hoje deixou de ser algo que exige puramente habilidade,
controle da máquina, arrojo, coragem. Guiar um carro de Fórmula 1 hoje envolve
conhecimentos matemáticos, exige que os pilotos sejam quase analistas de
sistemas.
Essa é a oportunidade que a Fórmula 1 perde, ou melhor, que aqueles que estão envolvidos no ambiente das corridas – imprensa, principalmente – perdem ao não levantarem a simples questão: por que o radio é tão importante atualmente?
Essa é a oportunidade que a Fórmula 1 perde, ou melhor, que aqueles que estão envolvidos no ambiente das corridas – imprensa, principalmente – perdem ao não levantarem a simples questão: por que o radio é tão importante atualmente?
Hoje em dia o
piloto tem no carro uma série de sistemas, uma quantidade gigantesca de
combinações e configurações para controlar. Analise com
calma, leitor, a foto abaixo. Veja a quantidade não só de botões, mas principalmente
de posições (ou opções de posição) que o volante apresenta. Repare na imagem
e se pergunte se não foi ultrapassado o limite entre
manusear o que parece ser um painel de avião e concentrar-se na pista – que por
si só já oferece elementos suficientes que o piloto precisa estar atento,
pois seu desempenho e até sua segurança dependem disso.
Mesmo que seja impossível saber a resposta, quantos pilotos já não perderam o controle carro, ou escaparam da pista, ou não viram uma bandeira amarela e tiveram fortes acidentes por estarem mais atentos ao que exige a peça na imagem acima?
Mesmo que seja impossível saber a resposta, quantos pilotos já não perderam o controle carro, ou escaparam da pista, ou não viram uma bandeira amarela e tiveram fortes acidentes por estarem mais atentos ao que exige a peça na imagem acima?
Você leitor
já parou para pensar que uma corrida pode ser decidida por uma combinação
de ajuste no volante? No GP da Europa vimos um piloto da Mercedes perder desempenho por não conseguir achar as combinações corretas. O próprio diretor
da equipe alemã afirmou depois da prova: “Nico Rosberg se deu melhor porque
encontrou mais rápido do que Lewis Hamilton a solução que o carro precisava”.
Pense você, leitor:
se ainda não chegou o dia, o quão longe estamos de ter não só uma corrida, mas
um campeonato decidido e conquistado por pilotos cuja principal característica seja
lidar melhor com sistemas e configurações de mapeamento do volante?
Entendo
perfeitamente a influência da tecnologia neste esporte. Não há como negar o
peso que o carro tem nas conquistas de um piloto. Até aí, ainda é
automobilismo. Mas daqui deste cantinho, e podem me definir como quiserem, eu me
recuso a aceitar que algum dia, mais importante do que saber disputar uma
freada, saber dosar o carro numa saída de curva, mais importante do que simplesmente guiar, a Fórmula 1 se torne um lugar onde o fundamental seja ajustar o
menu para 43L, 38P-X ou Yellow G-4.
Se nada for
feito neste momento, a Formula 1 caminha para ser um esporte em que um piloto
pode vencer seu companheiro de equipe (considerando portanto aqueles com
equipamentos iguais) não pelo braço, não pela técnica que aprendeu no kart, não
pela pilotagem, mas por saber lidar melhor com computadores.
Eliminar o
radio pura e simplesmente não é a resposta para deixar a Formula 1 mais “à mão”
dos pilotos. Hoje, tirar o rádio fará apenas com que o piloto tenha de passar
por inúmeras reuniões e sentar no carro com a responsabilidade de, entre tantos
outros desafios (muito mais interessantes ao fã de corridas, acredito), ter que
saber interpretar e assumir o controle de 600 ajustes – sim, este é o
número de opções que alguns pilotos já afirmaram existir no volante.
Muitos confundem
a necessidade do rádio ser justificada pelo avanço da tecnologia. Trata-se de
um erro, a meu ver. A Fórmula 1 não ficará menos tecnológica se permitir ao piloto
conduzir, pelos seus méritos, uma máquina que ainda será a mais avançada de
todas. A tecnologia na F1 evolui 24 horas por dia, 7 dias por semana e 365 dias
por ano nas fábricas, e assim continuará a ser. Mas no domingo, ao apagar das luzes vermelhas, ela deve ser “entregue” aos pilotos
para que eles façam uso de seus equipamentos sem que isso anule suas
habilidades como os mais rápidos condutores de carros do mundo.
É claro que a
Fórmula 1 sempre exigiu não apenas técnica e braço ao volante, mas também a
capacidade de acerto de um monoposto. Mas uma coisa é ajustar o equipamento pedindo
mais ou menos asa na dianteira, mexendo na configuração de suspensão ou discutindo
mais refrigeração ou não dos freios. Outra coisa bastante diferente é passar uma
corrida tendo que ajustar 600 configurações possíveis sentado num
supercomputador sobre rodas.
Não tenho nada
contra o supercomputador sobre rodas. Mas ele, avançadíssimo que seja, deve ser
conduzido por pilotos, sejam eles
bons ou ruins. E não ser gerenciado a ponto de se sobrepor a uma das mais belas
amostras que o automobilismo nos oferece a cada fim de semana, infelizmente hoje esquecida por muitos torcedores: a
arte de pilotar um carro de corridas.
Pra mim, volante de Fórmula 1 ou qualquer outro carro e também o painel dos carros só deveriam ter apenas o conta giros, marcador de marchas e velocímetro. E o Rádio só deveria informar, voltas restantes, bandeiras amarelas em qualquer lugar da pista, acidentes, tempo da prova, chubas e condições climáticas, além de quebras do carro o qual o piloto não vê
ResponderExcluirConcordo com sua visão, Josué. É isso mesmo, o rádio pode existir... O problema é que hoje virou uma ferramenta com poder de nivelar os médios aos grandes.
ExcluirAbraços!
Legal a continuação do assunto, Campos.
ResponderExcluirSim, concordo plenamente que a função do piloto deveria ser fazer aquilo a que veio: pilotar.
Para mim os ajustes de um F1 deveriam ser absolutamente limitados aos boxes. E lá sim, pode-se fazer todos os ajustes que eles bem entenderem e as regras permitirem.
Mas aí faço outra pergunta: Será que os carros avançadíssimos de hoje seriam "pilotáveis" em quaisquer condições sem todos estes ajustes?
Talvez a F1 tenha que dar muitos passos para trás para conseguir carros com volantes com apenas uns 2 botões como os da década de 90.
É válido seu ponto. Só não sei se é viável.
Já me fiz a mesma pergunta também. No fim das contas, acho que é possível não ajustar motor a todo momento, não mexer na mistura do combustível, não fazer programações de acertos e ainda assim completar a corrida e usar/valorizar um bom equipamento.
ExcluirPode-se mudar um pouco o modus operandi, mas não creio que sejam tantos passos para trás. A Fórmula 1 se adapta a restrições com habilidade.
Abraços!!
Mais uma vez concordo plenamente com seu ponto de vista Campos. Não é a toa que somos considerados saudosistas. Todos os acertos e regulagens deveriam ser feitos apenas nos boxea, pois hoje quem "pilota" o carro são os engenheiros passando os ajustes perfeitos pelo rádio
ResponderExcluirMinha caríssima Fab, lendo seu comentário me pergunto: o fato de defender uma F1 que valorize mais o piloto nos transforma de fato em saudosistas?
ExcluirObrigado pelo seu apoio sempre!
As vezes é preciso dar um passo para trás pra continuar seguindo em frente. A F1 (e seus fãs) só teria a ganhar com carros mais simples.
ResponderExcluirMas "limpar" o volante e eliminar os ajustes a cada a volta seria realmente deixar os carros mais simples? Eles ainda serão complexos, apenas não passaram por uma "sintonia fina" que a meu ver é desnecessária.
ExcluirAbraços!
Concordo com os que pensam que se tem pitoco,fica totalmente a cargo do piloto escolher qual pitoco bulir,e onde deixar.
ResponderExcluirCategórico ao melhor estilo Siqueirovsk!
ExcluirNa minha opinião os bólidos deveriam ter somente monitoramento (via box) das chamadas "Unidades-de-Potência" porque além de caras elas são realmente muito sofisticadas. Más quanto ao acerto de suspensão, asa e quantidade de combustível, quantas paradas e quando parar deveria estar sempre a cargo dos pilotos. E a FIA deveria de deixar livre o desenvolvimento mecânico dos carros e permitir que haja possibilidade de sempre o carro de traz, fazer ultrapassagens porque é isto que atrai o público para a F1.
ResponderExcluirInteressante seu comment, braz. A última frase é essencial.
ExcluirObrigado pela boa contribuição!
Concordo plenamente que as restrições de rádio só teria eficiência quando não necessitasse mais de regra, fosse irrelevante. Porém, quando entramos em determinadas vertentes, nós certamente, já saímos da discussão de rádio a muito tempo! O paralelo que se cria entre rádio e garantia de alta tecnologia do carro é algo irrealista do ponto de vista científico.
ResponderExcluirQuerer ganhar dois décimos de segundo, em um certo trecho de pista, com um mapeamento de motor diferente de outros trechos do circuito não faz do carro mais ou menos tecnológico ou avançado se esse ajuste for feito por um piloto a 300km/h ou por um engenheiro nos boxes. A verdade por traz de tudo isso são os dois décimos perdidos no trecho em específico vs consumo excessivo no restante da pista, por exemplo. Claro que há outras variáveis em um F1 além do mapeamento, mas a maioria delas são análogos a este exemplo. Hora, Meu 1.0 também pode sofrer ajustes eletrônicos, inclusive de mapeamento de motor. Isso não faz no meu 1.0 mais ou menos tecnológico.
Há um incompatibilidade de linhas de pensamentos que atrapalham a F1 de hoje. Para ser advogado do “diabo”, não é possível cortar os testes quase que completamente e esperar que a equipe não possa nem ao menos usar o rádio em determinados momentos para “completar” seu curso de desenvolvimento contínuo. O excesso de regras, mudanças constantes de norteamento da categoria (não encare norteamento como simplesmente as mudanças de regras e/ou normas técnicas. Pode haver mudanças, mesmo bruscas, de regras e normas mantendo um linha filosófica de pensamento) e a imersão de profundas frescuras vêm empobrecendo a F1. Existe uma confusão comum entre a assistência que se tem de componentes críticos do carro (como o sistema de recuperação de energia) e a assistência de pilotagem. A F1 coloca regras destoantes e contraditórias a todo tempo e de temporada a temporada.
Já imaginaram se o piloto pede ajuda e a equipe responde em uma placa? Ele não infringe a regra, pode ter o mesmo alcance e ainda corremos o risco de criarmos outra restrição. No final, o maior problema está longe de ser o rádio, é filosófico!